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quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Preciso falar ... Sim!!! Existem Princesas negras!!!As meninas negras são lindas!!!

(retirado do face book)

Venho de uma luta a alguns anos para que as crianças negras sejam vistas, mas não somente vistas... como valorizadas enquanto seres humanos que são, com suas potencialidades ... diferenças, afinal somos todos diferentes em alguns pontos e iguais em outros!!!!
E um ponto que tem sido muito forte e a construção de uma imagem e auto imagem positiva ... não vou discutir se existe ou não racismo , pois ele está ai para quem quiser ver, ouvir e sentir ... e infelizmente está presente em minha vida e família em vários desdobramentos ... esse tem que ser um "capítulo" á parte ... também não vou discutir se é questão social ou racismo ... pois os IDHs ( Índices de Desenvolvimento Humano) estão aí ... quanto maior o índice de desenvolvimento humano menor a proporção de negros e descendentes...sim existem discursos que me causam repulsa, sim repulsa pela cordialidade deste racismo individual e institucional que teimam em resistir!
Nos impõem um padrão de beleza europeu, nos convencem que a civilidade só existiu e continua com alguns ... coisificam, desumanizam, desvalorizam, desclassificam, de forma direta e indireta os afrodescendentes ... e depois eu que sou radical ... mas sim ... tenho raízes!!!Se é que me entende ... 
Por causa de uma educação reprodutória e nada reflexiva e que infelizmente ainda é maioria nas instituições educacionais, minha filha um dia aprendeu que não poderia ser princesa, ...não em casa...mas na escola , houve um trabalho de desconstrução e construção novamente de sua imagem que havia sido lesionada ... agora sim em casa ... mudou para outra pois tinha dado a idade, qual não foi minha surpresa, pois nunca estamos prontos para esses fatos , por mais que saibamos ... falaram que seu cabelo crespo, longo e lindo era feio e que atrapalhava ... mais um momento de difíceis aprendizados ... mas que temos vencido, buscado repertórios tanto para nos ver como para nos defender e aí quando ela explode em momentos de agressividade, o bilhete vem na agenda dela ... e o outro? E assim muitas crianças tem tentado sobreviver nesta selva de preconceitos e racismo, do jeito que dá, que conseguem, mas como ela é uma Princesa ... superou, ... então ... num clube ... duas meninas brancas e com uma formação deformada dizem a ela que não a querem ali... e fazem-na sair ... novamente a indignação me vem a pele...mente e emoções!!!
Ontem, aliás antes de ontem... me pego ouvindo uma Contação de História... Negrinha de Monteiro Lobato... em que respaldada na literatura brasileira trata mais uma vez a mulher (menina) negra de uma forma que ninguém acredito eu gostaria de ser tratada ... A partir do título dessa obra de Monteiro Lobato que cuja visão a frente do seu tempo e marcas profundas e conquistas estão longe de serem questionadas, mas que como homem que viveu numa época histórica escreveu o que parecia natural como alguns ainda acham até hoje natural reproduzir essa triste história , sem refletir, sem problematizar, só reproduzir... Voltando a literatura ... nota-se, pela utilização do sufixo – inha, o tratamento pejorativo dado à personagem principal no decorrer do conto, apresentada como “[…] uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados”... sem nome , sem identidade! Mas a mulher branca tem nome ... D. Inácia ... que representava um grupo que se achava e se acha superior até hoje e que muitas vezes nem se percebe como instrumento de racismo, descriminação, deseducação...e tudo que vem junto com tais práticas ... não veem nada de mal neste trecho ... "Batiam-lhe sempre, por ação ou omissão […] Pestinha, diabo, coruja, barata descascada, bruxa, pata choca, pinto gorado, mosca morta, sujeira, bisca, trapo, cachorrinha, coisa ruim, lixo – não tinha conta o número de apelidos com que a mimoseavam […] O corpo de Negrinha era tatuado de sinais, cicatrizes, vergões. Batiam nele os da casa todos os dias, houvesse ou não houvesse motivo" ... agora me pergunto ... quem em sã consciência gostaria de tais adjetivos?
Mais uma parte ..."Negrinha viu-as irromperem pela casa como dois anjos do céu – alegres, pulando e rindo […] Quê? Pois não era crime brincar? Estaria tudo mudado – e findo o seu inferno – e aberto o céu? No enlevo da doce ilusão, Negrinha levantou-se e veio para a festa infantil, fascinada pela alegria dos anjos.Mas a dura lição da desigualdade humana lhe chicoteou a alma. Beliscão no umbigo, e nos ouvidos o som cruel de todos os dias: ‘Já para o seu lugar, pestinha! Não se enxerga?’ […] Brincar! Como seria bom brincar! – refletiu com suas lágrimas, no canto, a dolorosa martirzinha".
Sem comentários... mesmo porque não conseguirei expressar todos aqui ... já são uma da madrugada!
Sobrou-lhe a vala comum ... e "E de Negrinha ficaram no mundo apenas duas impressões. Uma cômica, na memória das meninas ricas.“Lembras-te daquela bobinha da titia, que nunca vira boneca?”Outra de saudade, no nó dos dedos de dona Inácia. “Como era boa para um cocre!...” Como? Saudade? A vá ... me economize!
Nós Educadores precisamos acordar para certos meandres, ocultos, velados ou escrachados ... não existe neutralidade das ciências, nem da educação... O imaginário infantil não é igual a de um adulto...A criança está num processo de construção de sua identidade, qual criança vai querer se ver numa leitura como esta?Depois quando ela se desenha branca sendo negra vem com o discurso que o próprio negro tem preconceito com o negro e não se assume...a vá!Temos que saber a quem servimos, como servimos e o que queremos com esse serviço ... sim sou servidora pública ... com muitas dificuldades, limitações, faltas , mas com o desejo de aprender, crescer, vencer e construir uma história melhor , não só para a minha filha e olha que nem citei casos ocorridos com meu filho, com meu marido ... mas para o seus filhos , para aquelas duas meninas do clube, seus pais, ... para uma sociedade que respeite ... não sou obrigada a seguir , amar ou acreditar em tudo que seguem , amam ou acreditam ... mas respeitar faz um bem!
E coaduno com Nelson Mandela ... Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.
Que mais este Novembro Negro, que é fruto de luta, conquista ... sejam momentos de reflexão individual e coletiva, que a reflexão-ação-reflexão seja nossa metodologia, prática... a cada dia!Axé!



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