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sábado, 29 de abril de 2017

Um conto que conta, reconta e possibilita novos contos sem desconto algum!

A Moça Tecelã
(Marina Colasanti)

Postei no Livrolegalpontocom o texto do livro, como ressalto lá, repito cá ... Nada substitui pegar, folhear o livro, ver as imagens construídas, mas... abaixo você poderá ler o texto despido da beleza e encanto que envolve o livro físico... Mas querendo pode conferir A Moça Tecelã
Aqui compartilho algumas reflexões ... questionamentos sem respostas ... exposições sem explicações...

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"Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear"... Assim começa este conto que conta, reconta e possibilita novos contos sem desconto algum!
"Nada lhe faltava... Na hora da fome tecia um lindo peixe..." Uma  mulher independente, que constrói a cada dia seus sonhos, desejos e possibilidades... Tenho em minhas memórias várias "Tecelãs" e uma delas nem está mais aqui ... Minha mãe que sempre dizia, "minha filha não dependa de macho nenhum", talvez por ter passado por muitos momentos em que quis destecer algumas coisas, pessoas ou acontecimentos e as linhas se embolaram e não conseguiu!Já partiu...
"Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer" ... Me vejo aqui ... Trabalhando dentro e fora de casa, Criando Filhos, Família, Marido, Contando histórias, Semeando aqui e ali, Estudando, Criando artes, porque é o que sei fazer e é o que eu quero fazer!É o que me dá prazer...
A moça tecelã trouxe alguém para a sua vida, tece um homem que em sua ideia seria um companheiro mas que na verdade era um abusador, que a fez tecer(trabalhar para alimentar seus caprichos), que a colocou, "escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre", no isolamento... Já não tinha vida, vivia para ele, perdeu sua identidade, sua autenticidade, simplicidade. Quantas mulheres são afastadas de seus amigos e familiares e de si próprias para que o abusador possa manter o controle de sua fonte de renda e prazer? 
Neste momento lembro de algumas tecelãs que estão no mais alto quarto da mais alta torre... Mesmo quando num "abismo sem fim"..."É para que ninguém saiba do tapete — ele disse" sempre uma desculpa recheada de boas intenções... "E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!" Mais exigências ... Não basta isolar, tranca-a, pois sem amigos e sem familiares, sem apoio vive-se como se de fato aquilo fosse o bem, o melhor...
Ele em nada acrescentou positivamente em sua vida, pelo contrario, deteve sua liberdade em se expressar, seus sonhos ele não valorizou, suas vontades ele não fez nem quis escutar...
"E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo" ... Podem atirar a primeira pedra , mas as vezes é tão bom "estar sozinha de novo" ouvir o silêncio, sem "obrigações" ou "responsabilidades"... De vez enquando "eu fico sozinha" sozinha, as vezes "eu fico sozinha" com amigas rindo e tomando uma sopa, chorando e orando, passeando sem pressa de chegar ou voltar... Esse distanciamento me ajuda a destecer o que é urgente mas não importante...
Num "lapso" de consciência..."Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear" Fico construindo em minha mente essa imagem libertadora, na calada da noite pois ela vivia calada... Porém agora não iria tecer e sim destecer ... desfazer a trama, os pontos criados, desmanchar e desmanchar-se; desentretecer e desentretecer-se,  desfazendo-o se desfazer-se para se refazer num novo amanhecer... A dualidade da liberdade e o amor; valores materiais e a afetividade; autonomia e a submissão... Muitas vezes não conseguimos ter certeza onde começa uma e termina a outra , foi escolha ou imposição ... 
Colasanti se vale desse conto para representar o sentimento de muitas pessoas, as dores e o sofrimento de algumas mulheres, mas não só delas pois acredito que todos possam se ver como a tecelã em algum momento de sua vida, quer seja num relacionamento de amizade abusiva, ou romance, relação profissional e/ou familiar que o destecer se faz necessário para poder voltar a viver!Pois não basta somente sobreviver...
Essa obra é um "conto de fadas" as avessas... Hoje em dia tem mudado as perspectivas em relação ao "Príncipe Encantado", pois a bem pouco tempo atrás a felicidade de uma mulher se restringia a se casar ter filhos e cuidar de seu lar... Mas fico pensando com tanta liberdade e conquistas, empoderamento e formação, as mulheres são mais felizes ou mais atarefadas? Estão mais realizadas ou estressadas? Volta a dualidade? Não sei ... 
Porém " como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte" , existe sempre a possibilidade de tecer um recomeço, começar de novo, retomar, começar a ser mais uma vez, a produzir e produzir-se novamente, com a luz de um nova manhã...

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